Por anos, a política brasileira se transformou em um campo de batalha onde a lealdade se sobrepõe à razão, onde as convicções superam os fatos, onde se perde amigos, família e, em casos extremos, a própria liberdade em nome de um ideal que, talvez, nem exista de verdade.
Agora, o que parecia intocável está sob julgamento. Jair Bolsonaro, ícone da direita, figura central de uma devoção quase religiosa, foi tornado réu pelo Supremo Tribunal Federal. Seus apoiadores mais fiéis gritam que é perseguição. Seus opositores comemoram como se fosse um troféu. Mas e a população? O que ela ganha com isso?
E se, ao final de tudo, a direita se fragmentar, se esvair em brigas internas, perder sua identidade e se tornar apenas uma sombra do que foi? E se a esquerda, sentindo-se fortalecida, assumir o controle absoluto e cometer os mesmos erros que tanto criticou no passado? E se, no fim, tudo continuar exatamente como sempre foi: o povo pagando a conta, enquanto as elites políticas seguem em seus jogos de poder?
Os que hoje vestem camisetas, sobem em caminhões, batem no peito e se dizem guerreiros de uma causa, terão forças para seguir lutando caso os ventos mudem drasticamente? Terão forças para admitir que talvez tenham sido usados, que talvez seus esforços não tenham sido para um país melhor, mas para um ciclo que se repete incansavelmente?
Se Bolsonaro for condenado, o que acontecerá com essa massa que o defende cegamente? Encontrará outro líder para seguir? Ou, talvez, se dispersará, cansada de lutar uma guerra que nunca foi sua?
E o mais importante: valeu a pena? Valeu a pena brigar com a família, perder amigos, arriscar empregos, enfrentar processos judiciais? Valeu a pena tanto esforço para, no fim, descobrir que o jogo político não tem heróis, apenas interesses?
O país seguirá seu rumo, como sempre seguiu. Mas o que será da direita brasileira se o que está para acontecer, realmente acontecer? E o que será do Brasil se, no fim das contas, só mudarem as peças do tabuleiro, mas não o jogo?