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Do útero à pista: a importância da nutrição na formação de campeões

Em uma entrevista recente, a Kheiron Biotech, empresa responsável pela descoberta revolucionária, comentou que alguns dos objetivos dessa técnica é melhorar a saúde e prevenir condições genéticas indesejadas para os cavalos

Jomar Medeiros
Por: Jomar Medeiros Fonte: Gabriela Pombo
24/02/2025 às 20h37 Atualizada em 24/02/2025 às 21h37
Do útero à pista: a importância da nutrição na formação de campeões

Por Gabriela Pombo
A genômica, uma ferramenta cada vez mais utilizada na produção animal, tem
proporcionado avanços significativos nos últimos anos. Através de técnicas como a
genotipagem, os criadores podem selecionar animais com maior potencial genético, que
melhoram a qualidade de seus rebanhos e aumentam a eficiência produtiva.
Quem não acompanhou as notícias dos cinco potrinhos nascidos na Argentina em
dezembro do ano passado? Os animais tiveram seus genes editados com o objetivo de
torná-los mais rápidos em esportes e evitar doenças hereditárias. A técnica utilizada foi
a CRISPR/Cas9 (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats), criada
pelas doutoras Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier, vencedoras do prêmio
Nobel de Química em 2020.
O método empregado para esse avanço consiste em editar o material genético. São
como “tesouras” que conseguem identificar e recortar apenas uma parte específica do
DNA. Com isso, é desativada a característica codificada ali, sem mexer no resto do
material genético, possibilitando substituir esses trechos por outros, como se fosse um
transplante de genes.
Em uma entrevista recente, a Kheiron Biotech, empresa responsável pela descoberta
revolucionária, comentou que alguns dos objetivos dessa técnica é melhorar a saúde e
prevenir condições genéticas indesejadas para os cavalos, além de incorporar
características desejáveis para cavalos de corrida.
A ideia de se ter animais modificados geneticamente nas fazendas não é mais para testes
ou especulações, é uma realidade. Apesar de parecer distante da vida de muitos, é
preciso observar que a tecnologia é utilizada diariamente para desenvolver tropas,
principalmente por quem atua na área de reprodução e nutrição.


Nascendo um campeão
O crescimento e o desenvolvimento fetal dependem do ambiente intrauterino
responsável pelo suprimento de requisitos nutricionais, metabólicos e endócrinos, sendo
a maioria deles derivada direta ou indiretamente da fonte materna.
Uma dessas ferramentas utilizadas para garantir um bom desenvolvimento do feto é a
programação fetal (PF). Pouco difundida nos equinos, mas bem estudada em outras
espécies, inclusive em humanos, ela pode mudar a saúde e performance dos potros, tão
aguardados por seus donos.
A reprodução equina é um processo altamente tecnológico, que exige planejamento e
acompanhamento em todas as etapas. Desde a escolha do material genético até o
nascimento do potro, utilizamos ferramentas e conhecimentos avançados para garantir a
máxima eficiência e a obtenção de animais de alta qualidade, que são o resultado final
de todo esse trabalho.

Ainda não sabemos como fazer um excelente uso da programação fetal, mas diversos
aspectos já foram estudados, como o que não desejamos que ocorra. Desde 2014,
artigos e estudos vêm demonstrando a importância de não exceder o uso de grãos na
dieta das éguas na gestação, visto os problemas que são observados na prole. Tanto a
energia como a proteína são bem discutidas e temos acesso às informações no campo.
A importância dos minerais durante a gestação
Os retardos de crescimento uterino (IUGR) variam de efeitos graves e imediatos,
evidenciados pelo aborto ou desajuste neonatal, a déficits de longo prazo mais sutis, que
podem não se tornar aparente clinicamente até mais tarde na vida no indivíduo.
Segundo pesquisas, esses efeitos revelam que a nutrição de um indivíduo, antes do seu
nascimento e durante a infância, programa o desenvolvimento de fatores de riscos como
aumento da pressão arterial, concentrações séricas de fibrinogênio e fator VIII e
intolerância à glicose no indivíduo, sendo esses efeitos, a partir de estudos
epidemiológicos, postulados como sendo determinantes da doença cardíaca coronária
mais tarde na vida.
Estudos sobre distúrbios induzidos por micronutrientes durante o início da vida fetal
revelam que a deficiência de micronutrientes específicos como o zinco pode resultar em
uma maior incidência de má formação fetal e absorção embrionária do que a
desnutrição geral. Além disso, a gama de micronutrientes que afetam o
desenvolvimento, o número de estágios críticos, diversos sistemas bioquímicos e tipos
de tecidos se combinam para aumentar os problemas do status inadequado de
micronutrientes.
Minerais vindos do feno e do pasto são influenciados por fatores do solo, espécies de
plantas, estágio vegetativo, fertilização e irrigação. Embora forragens frescas forneçam
cálcio, fósforo e potássio em quantidades adequadas durante a gestação, a oferta de
sódio, cloro, cobre, zinco e selênio pode ser insuficiente. Nas categorias de maiores
exigências nutricionais como a gestação, os valores para atender as necessidades desses
animais para cálcio e fósforo aos 120 dias de gestação ficam em 20 gramas e 14 gramas,
respectivamente. Já dos 250 aos 340 dias de gestação, esses valores sobem para 36
gramas e 26.3 gramas, respectivamente. Durante a lactação, os valores são 59.1
gramas/dia de cálcio e 38.3 gramas/dia de fósforo.
O cobre tem seu papel potencial na patogênese de doenças ortopédicas do
desenvolvimento. O feto equino estabelece seus estoques hepáticos de oligoelementos
nos últimos meses de gestação para mobilização durante os primeiros meses após o
nascimento. Com isso, suplementar a égua no final da gestação foi hipotetizada como
tendo efeitos protetores na cartilagem articular do potro.
Em outro experimento, éguas puro-sangue em pastejo (4,4-8,6 mg Cu/kg de matéria
seca) foram suplementadas oralmente com cobre (0,5 mg Cu/Kg de peso vivo/dia)
durante o último semestre de gestação e seus potros também foram suplementados
oralmente com cobre até os 5 meses de idade. A suplementação materna com cobre
reduziu tanto o escore de epifisite radiográfica em 38% quanto o número de lesões
articulares em potros aos 5 meses de idade, enquanto nenhuma melhora de qualquer um
dos parâmetros foi observada quando apenas os potros foram suplementados com cobre.

Isso sugere que a suplementação oral de cobre da égua ao final da gestação é mais
eficiente em garantir o desenvolvimento saudável do esqueleto do que a suplementação
dos potros após o nascimento.
Éguas Quarto de Milha mantidas em pastagem ou alimentadas com mistura adicional de
grãos na segunda metade da gestação foram suplementadas via oral com levedura de
selenometionina (SeMet) até o parto. Apesar ter aumentado o conteúdo de selênio no
colostro, concentrações plasmáticas e musculares nas éguas e nos seus potros até os 2
meses de idade, a utilização da SeMet não aumentou a concentração de IgG no plasma
do potro, mas reduziu a concentração plasmática de leptina nas primeiras 18 horas após
o nascimento.
Poucos são os estudos que compreendem a suplementação durante a gestação com
objetivo de avaliar o desenvolvimento e a saúde do potro, principalmente por serem
onerosos e longos. Por outro lado, em outras espécies já sabemos a importância da
melhora na qualidade do mineral oferecido, além das quantidades corretas para atender
às exigências nas diferentes categorias.
O uso da suplementação mineral deve ser diário, acompanhado e qualquer problema
deve ser registrado. Uma das falhas na desnutrição das éguas e saúde diminuída nos
potros é o não acompanhamento do fornecimento da água, forragem e mineral. Muitos
concordam que, nessa ordem, a pirâmide básica alimentar na produção animal deve ser
atendida antes de pensarmos em onerar o planejamento alimentar com suplementação.
A dica é procurar produtos que atendam às necessidades das categorias trabalhadas.
Pesquise sobre a biodisponibilidade dos minerais que estão nos produtos. Priorize
produtos de origens naturais e com alta tecnologia. Os potros merecem éguas bem
alimentadas. A saúde de dois animais entra pela boca de apenas um!
Não se esqueça dos nossos cavalos. São eles que movimentam nossa pecuária.

As referências bibliográficas encontram-se com a autora.

Gabriela do Vale Pombo é zootecnista, pós-doutoranda em Genômica Nutricional e
coordenadora de Equinos da Premix