Há coisa de um mês publiquei no Facebook a frase “Escola não é quartel”, acompanhada de link para um texto do Le Monde Diplomatique (*) em que Pollyana Labre (doutoranda em História na Universidade Federal Fluminense), Ana Penido (pós-doutoranda em Ciência Política na Universidade Estadual de Campinas) e Suzeley Kalil (professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista) discorreram sobre as razões de tal afirmação.
Não escrevi o texto, não o publiquei em um site importante, não apresentei argumentos, apenas compartilhei o link na dita rede social para quem se interessasse sobre o tema. E aí vieram os comentários, estes, sim, que me fizeram pensar no quanto é importante que todos estejamos atentos para o que é ensinado nas escolas, especialmente as públicas – que é onde estuda a maioria das crianças e jovens brasileiros. Afinal, uma opinião pressupõe um mínimo conhecimento sobre a matéria em debate.
Entre os principais argumentos das pessoas favoráveis às escolas cívico-militares estão a preocupação com a disciplina dos alunos e as drogas, nenhum deles tocante à questão da melhoria da qualidade do aprendizado. Péssimo sinal.
Eu não sei vocês, mas me preocupo muito quando alguma categoria profissional é alçada à condição de “salvadora da pátria” em qualquer esfera, e ainda mais na educacional. Posso estar maluco, mas escola é lugar de professor, e pelo menos na minha postagem, a maioria das pessoas que reagiram pareciam concordar. O bom senso adquirido nesses agora 60 anos de vida me levam a crer que, se há algum problema com a qualidade do professor, a busca deveria ser pela melhoria dessa ou dessas qualidades.
No mesmo sentido, se há problema com drogas dentro ou fora das escolas, trata-se de cobrar das autoridades policiais, judiciárias, do Conselho Tutelar e do Ministério Público uma atuação condizente. Antes de buscar alternativas para solucionar esses problemas, por questão de prudência, deveríamos questionar se as polícias, civil e militar, têm efetivo suficiente para dar conta da segurança pública. Ou se os policiais são bem treinados, bem remunerados, por exemplo. Seria de se questionar, também, se o Conselho Tutelar funciona a contento, com estrutura e pessoal capacitado para enfrentar o desafio. E o Ministério Público, desempenha seu papel de guardião dos direitos dos cidadãos a uma educação de qualidade? Seria bacana se os procuradores do MP visitassem as escolas, e verificassem “in loco” o tamanho do problema.
O curioso é que não vejo clamor de pais ou responsáveis legais das crianças e adolescentes, estudantes de escolas privadas, pedindo a presença de Policiais Militares em suas instalações. Por quê isso ocorre, em sua opinião, raro leitor, rara leitora?
Este texto já ficou grande para o espaço, mas há outras argumentações postadas no meu perfil do Facebook que necessitariam ser discutidas. Uma delas a de que, crianças ou pais insatisfeitos com a presença militar nas escolas, deveriam se mudar. Como é que é?
Outra é a de que os pais votam concordando ou discordando dessa mudança. Com todo o respeito a essas pessoas, antes de opinar sobre tema tão especializado seria de bom tom que houvesse mais debate sobre o assunto. Uma forma de melhorar as escolas, especialmente na questão da disciplina, seria educar mais e melhor os filhos, este sim um tema ao alcance de qualquer pai ou mãe.
Finalizo dizendo que não tenho, e nem desejo ter, o poder de interferir nas decisões governamentais sobre educação. Apenas suscito melhor debate. Também não defendo a baderna, a utilização de drogas lícitas ou ilícitas, por estudantes ou professores. E aos policiais aposentados desejo um bom descanso, depois de uma vida de relevantes serviços prestados na área da segurança pública.
Homero Pavan Filho
Jornalista