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O Norte Pioneiro ficou menor, e talvez nem se dê conta

Dono de uma cultura geral vasta, fruto de suas leituras habituais, tinha enorme capacidade de memória e por isso citava passagens desde os primórdios da civilização para embasar seus argumentos.

Jomar Medeiros
Por: Jomar Medeiros Fonte: Da Redação
28/10/2023 às 14h23
O Norte Pioneiro ficou menor, e talvez nem se dê conta

O estudante da Universidade Estadual do Norte Pioneiro, hoje sentado numa sala de aula, talvez não saiba que estuda numa academia criada graças, em boa parte, à atuação do jornalista Benedito Francisquini. Assim como as pessoas internadas na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Regional do Norte Pioneiro desconheçam o papel desempenhado por ele para sua implantação. Com esses dois exemplos, e são vários, está explicado o título deste artigo, mas continuemos.

Francisquini, a quem chamei a vida toda de Dito Chico, exalava coragem. Com sua voz grave e quase sempre ruidosa, impunha respeito a todos os interlocutores, especialmente devido à capacidade ímpar de transportar ao papel as palavras que proferia em defesa do desenvolvimento social, econômico e cultural de toda a Região.

Dono de uma cultura geral vasta, fruto de suas leituras habituais, tinha enorme capacidade de memória e por isso citava passagens desde os primórdios da civilização para embasar seus argumentos. Para que os mais jovens possam entender, ele possuía um HD com alguns terabytes de capacidade de armazenagem de dados. Brincávamos que, se ele possuía um potente HD, eu teria uma memória RAM capaz de processar todos aqueles dados, e juntos construímos alguns capítulos relevantes da história da Tribuna do Vale.

Não havia político no Paraná, desde o vereador ou prefeito de uma pequena cidade aqui da Região, seja um deputado estadual ou federal, secretário de Estado ou Governador, que não respeitasse os textos, jornalísticos ou de opinião, publicados na Tribuna do Vale. E esse respeito influenciou, em maior ou menor grau, uma geração de políticos em suas decisões. E vou além, muitos deles nutriam uma amizade verdadeira com o Dito Chico, mantinham diálogos frequentes para auscultar os movimentos da sociedade norte pioneirense.

Muitas vezes incompreendido – alguns imaginavam que sua pena escrevia a soldo-, Francisquini dizia que, mais importante do que publicava eram informações que deixava de publicar. Conhecedor do poder destruidor de um texto seu, resolveu muitas questões com alguns telefonemas e com isso contribuiu para que outras questões mais importantes fossem o foco do debate.

Francisquini não era santo, nem reivindicou esse título, jamais. Tinha seus problemas pessoais, errou, tentou consertar, algumas vezes bem sucedido e em outras não. Foi fundamental, porém, na construção da maior parte do jornalismo do Norte Pioneiro. Inúmeros são os profissionais que lapidaram seu conhecimento na companhia do Dito Chico, seja como colaboradores, funcionários ou mesmo concorrentes.

Francisquini era um bravo, homem forte, mas com uma sensibilidade à flor da pele. Essa sensibilidade não permitiu que suportasse a dor da perda de seu filho Andrei, devido às circunstâncias da tragédia. Vale a pena lembrar que Andrei foi morto após uma perseguição policial pelas ruas de Curitiba e como pai amoroso que era não se conformou com as explicações das autoridades. Lutou com todas as forças para que aquilo que considerou um assassinato fosse esclarecido, mas não obteve o apoio esperado daqueles a quem sempre apoiou. Além do filho, perdeu o respeito que tinha por essas autoridades.

Nada disso apagará o legado que deixa. Além dos filhos e netos, ainda restamos muitos amigos. E os historiadores ainda contarão, de maneira apropriada, quem foi Benedito Francisquini. Ficam as saudades.

Descanse em paz, meu amigo.

 

Homero Pavan Filho

Jornalista (graças ao Francisquini)